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Bem sei eu que tudo
podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.
Quem é este que sem conhecimento obscurece o conselho? por isso falei do que
não entendia; coisas que para mim eram demasiado maravilhosas, e que eu não
conhecia. Ouve, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me responderas.Com
os ouvidos eu ouvira falar de ti;mas agora te vêem os meus olhos.Pelo que me
abomino, e me arrependo no pó e na cinza”. (Jó 42.2-5)
O capítulo 42 de Jó
nos mostra um homem que se prostra em adoração diante do Deus Soberano. Os
entulhos dos questionamentos fundamentados no seu egoísmo são retirados à
medida que Jó tem uma percepção do amor de Deus que é eterno e que, por isso, o
atrai com benignidade ( Livro do profeta Jeremias 31.3). Jó se cala, porque se
encontra com o Deus cujo Amor Eterno o envolve em tal medida que as
explicações, requeridas em boa parte do livro, agora se tornam desnecessárias.
No encontro com o Deus
que vem ao seu encontro, Jó aprende que Deus está mais longe e mais alto do que
a religiosidade humana. A experiência com Deus, ao olhar para a Sua face
–linguagem que opõe a religiosidade superficial à experiência da conversão
genuína, faz com que os questionamentos percam o sentido. “Aquele que
esperava sair do cadinho como do ouro puro” (Jó 23.10), se prostra em adoração (Jó
42.6)
A fé que nasce na
graça é a que Jó conhece no encontro com Deus. É amar a Deus não pelo que Ele
Lhe concede, mas por aquilo que Ele é. A fé oriunda da Graça nos faz lançar o
olhar para a face de Deus a fim de conhecê-LO, e não para as Suas mãos, a fim
de receber algo.
A experiência de Jó
não pretende explicar e pôr um fim ao problema do sofrimento humano. As
respostas que Jó esperava receber de Deus não lhe são dadas. Ao invés de
respostas, ouve-se um turbilhão de perguntas às quais não pode responder. Jó,
assim, descobre qual é o seu lugar! O falador e inquiridor se transforma no
homem silencioso, imerso na experiência do conhecimento da soberania de Deus.
Jó se dá conta que o trono do Universo não está vazio. Todas as coisas estão no
controle daquele que tudo pode e cujos planos não podem ser impedidos.
A necessidade de
explicação dá lugar à participação, à comunhão, à experiência com o Soberano
Senhor e Criador de todas as coisas. Tal participação, é verdade, “não desfaz o
enigma do sofrimento no universo, mas permite ao homem viver. Ele não está mais
prostrado pelo escândalo. Não está mais fascinado pelo nada. A sua fé o liga ao
Ser. Ele vive na perspectiva da sola gratia”. (Dr. Samuel Terrien)
Não é intenção do
livro de Jó resolver o problema do sofrimento, mas mostrar o triunfo da fé que
repousa na graça quando do despojamento completo do eu. Jó prenuncia, portanto,
séculos e séculos antes do Apóstolo Paulo, a doutrina cristã de que a graça é
suficiente quando somos privados das demais coisas! (2 Coríntios 12.9)
“Ó Senhor,
tu sabes o que é melhor para nós, faça-se aquilo que te aprouver. Dá o que
quiseres, na quantidade que quiseres e no tempo que te aprouver. Faze de mim
como achares melhor e o que mais te agradar. Põe-me onde quiseres, e trata
comigo em tudo de acordo com o que tu queres. Eis-me, o teu servo pronto para
tudo, pois eu desejo não viver para mim mesmo, porém para ti; e quem me dera
fazer isto digna e perfeitamente” . (Thomas à Kempis – 1379-1471).
Rev. Ézio Martins de Lima
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